Tamanhos absolutos
Se costuma usar softwares gráficos, poderá já ter notado que quando pretende escolher o tamanho da letra a usar, certos números não aparecem nas caixas dropdown, nomeadamente os: 13, 15, 17, 19 e 23. Outros softwares, nem sequer o 7 e o 21 listam. Mas porquê? Será que os programadores não gostam de alguns números ímpares, será que os números são apresentados numa oculta progressão ou haverá outra razão?
À falta de informação sobre o assunto, mas sabendo umas coisas de tipografia, presumo ter a explicação para o fenómeno: tal como noutras situações, os softwares gráficos foram criados usando as referências gráficas e tipográficas dos métodos tradicionais. São ferramentas digitais que tentam replicar o que se realizava de forma manual, fotográfica ou mecânica na altura em que foram desenvolvidos.
No caso da tipografia as referências ainda são anteriores e vincadas por cinco séculos de uso. Quando surgiram as fontes em chumbo no século XV, não havia classificação numérica, pois não havia escalas ou forma de medição fidedignas. Os tamanhos eram absolutos e tinham nomes específicos. As letras do primeiro livro impresso em Itália serviram como referência de tamanho ideal dos caracteres para impressão de livros. Esse tamanho ficou conhecido pelo nome do autor do livro; “Cícero”, (ou “Pica” na posterior versão norte-americana), actualmente ambos com cerca de 12 pontos.
Depois da criação do Cicero, tornou-se necessária a criação de letras noutros tamanhos e assim foram surgindo novos nomes (aqui na nomenclatura Inglesa). Comparemos a lista dos tamanhos absolutos disponíveis desde o século XV e respectivas equivalências aproximadas em pontos actuais:
Tamanhos absolutos | Equivalência (pontos) |
---|---|
Minion | 7 |
Brevier | 8 |
Bourgeois | 9 |
Long Primer | 10 |
Small Pica | 11 |
Pica | 12 |
English | 14 |
Two-line Brevier | 16 |
Great Primer | 18 |
Paragon | 20 |
Double Small Pica | 22 |
Double Pica | 24 |
Bastante similar às caixas dos softwares, certo? Ao longo dos tempos estes tamanhos preencheram as necessidades de impressão de letras para diversas finalidades sem que fosse necessário criar tamanhos intermédios. Mais tarde, quando surgiram os sistemas de medição por pontos, não havia equivalência matemática para os 13, 15, 17, 19 e 23 pontos. Outros tamanhos, como o 21, ficavam num território duvidoso entre o Paragon e Double Small Pica, agravado com a instabilidade das medidas pouco regulares. Esse tamanho, tal como outros, eram considerados irregulares, por exemplo o Minion, cujo próprio nome é depreciativo (lacaio, servo, criado). Acima de 24 pt, os tamanhos subiam numa progressão múltipla de Ciceros, ou seja; 36, 48, 60, 72, o que também é norma para bastantes softwares.
Apesar das escalas numéricas, os nomes dos tamanhos continuaram em uso pelos impressores e gráficos até ao final do século XX, em especial nos países anglo-saxónicos, onde as escalas foram introduzidas mais tarde do que no resto da generalidade dos países europeus.
Quando transpostos para os meios digitais no final do século XX, julgo que os programadores seguiram as normas tipográficas habituais e apenas listaram os números referentes aos antigos tamanhos absolutos. Apesar de já não estarem identificados por nome, a norma dos tamanhos absolutos ainda é genericamente mantida.