Paraeidolia
A maioria de nós julga ver o mundo com os olhos. Julga ainda que o mundo é visto de forma igual por todos! São uma assumpções erradas, pois não é de todo o que acontece. O processo é menos evidente e linear.
Os olhos são como que as “lentes”, o primeiro órgão de um sistema visual muito mais complexo. Pelos olhos se dá a entrada da luz, dos fotões luminosos, cujas células da retina convertem em impulsos nervosos. Estes são transmitidos pelo nervo óptico via tálamo até à parte posterior do nosso cérebro, o córtex visual, onde são processados. Nesse centro de análise, a informação recolhida é desmontada em multíplas partes e analisada: cor, profundidade, iluminação, movimento, etc.. Esses blocos de informação são processados pelo cérebro, segundo o que que um sabe e conhece, as experiências que teve e o que arquivou na memória. O mundo percepcionado é pois uma construção cerebral própria de cada indivíduo, inevitavelmente diferente dos demais.
A pareidolia é um fenómeno psicológico que leva a interpretar silhuetas, luzes, formas e outros sinais (que podem ser de outro tipo, por exemplo, sonoros), e lhes dêem um significado próprio. É o fenómeno que permite interpretar de forma poética um conjunto de nuvens como um ser vivo, um conjunto de objectos inanimados dispostos de forma particular com uma face ou sorriso, ou de forma mais polémica, assegurar que umas sombras de umas rochas numa fotografia Marciana1 são uma cara. Esta percepção leva a conceber um criador, quiçá extraterrestre, como alguns poderão defender ardentemente, visto que o homem nunca ali se aventurou! Os mais resilientes a tais teorias podem agora ser esclarecidos através das imagens de alta resolução recolhidas por sondas mais recentes. As novas imagens possibilitaram revelam cabalmente um aglomerado de rochas dispersas que acidentalmente produziram no nosso cérebro tal fenómeno, julgando ver uma cara.
Tal fenómeno é explicado pela capacidade cognitiva humana e pela necessidade de se inteirar do mundo que o rodeia, em especial das caras e expressões de outros humanos. Como animal gregário e social que é, o ser humano desenvolveu diversos mecanismos (atenção, percepção, associação, raciocínio, juizo, memória, etc.), para processar informação, para se organizar e compreender o que está à sua volta e reagir em conformidade, o que o leva rapidamente a sintetizar e a reconhecer padrões. Quaisquer sinais, ainda que pequenos ou fracionários, entendidos pelo nosso cérebro numa ordem pré-definida, leva a que os identifiquemos como uma imagem reconhecível, tornando possível interpretarmos caras/sorrisos em construções abstractas tais como :).
Notas
1 Imagem tirada pela sonda Viking 1, disponibilizada pela NASA em 25 de Julho 1976
Bibliografia