Ambigramas; a capicua gráfica

O ambigrama é como que uma versão gráfica de uma capicua que pode ser lido para ambos os lados com o mesmo sentido, mas que pode conter mais do que uma leitura/palavras, conforme a estrutura, orientação e tipo. Apesar do termo só ter sido popularizado nos anos 80 do século XX e ganhado fama global no início do século XXI, julga-se que a origem do conceito remonte a 1893 pelas mãos do ilustrador Peter Newell (1862–1924). Newell que trabalhou com diversos autores, entre eles Lewis Carroll e Mark Twain, publicou dois livros de ilustrações “inversíveis”; conforme a posição normal ou invertida do livro, cada ilustração mostrava duas imagens distintas. Nesses livros, Newell usou palavras que se liam com dois sentidos conforme a posição, tal como as imagens.

A ideia foi seguida pontualmente por alguns autores como o designer industrial Raymond Loewy com o logotipo “New Man” de 1969, que pode ser lido exactamente da mesma forma; rodando-o 180º, e pelo logotipo do famoso carro “DeLorean Motor Company” — DMC de 1975 que pode ser lido para a frente e para trás.

Nos anos 70 do século XX surgiram três designers que se dedicaram com grande sucesso a esta forma gráfica/artística:
- Robert Petrick (logotipo para os Angel em 1976, entre diversos outras criações)
- Scott Kim (diversos livros sobre puzzles, ambigramas e outras formas, desde os anos 70 até à actualidade)
- John Lagdon (diversos logotipos, livros sobre ambigramas, desde os anos 70 até à actualidade)

Com estes e outros designers a debitarem novos modelos, tiveram que se categorizar os ambigramas por tipos que são incluídos em dois grandes grupos:

Simétricos
- “Rotativos”, como os casos referidos acima;
- “Bilaterais/Espelho”, que são os que se lêem nos dois sentidos;
- “Corrente rotativa”, que são circulares, com as palavras cortadas em sílabas e desenhadas em ângulo, ligando-se;
- “Corrente bilateral”, que se lê da mesma forma em espelho ou detrás;
- “Totens”, que são lidos verticalmente e em espelho.

Assimétricos
- “Symbiotogram”, que usam parte das palavras, ou sílabas, para formar palavras diferentes quando rodados 180º
- “Figura/fundo”, que usam a forma como uma palavra e os espaços como outra, geralmente oposta
- “Oscilações”, que usam as formas das letras para dar duas ou mais leituras.

O caminho para a fama global começou em 1992, quando John Lagdon lançou o livro WordPlay sobre esta temática. O livro chegou às mãos de Dan Brown que gostou tanto do conceito que pediu a Langdon para criar um conjunto de ambigramas para integrar na história de um romance que estava a escrever. O pedido para os ambigramas era bastante específico: um com a palavra Illuminati, quatro com as palavras dos elementos básicos; Earth, Fire, Air e Fire. E mais difícil, queria um ambigrama que usasse estas quatro palavras em conjunto. Por fim, um ambigrama com o nome do romance: Angels & Demons. O resultado alcançado por Langdon é absolutamente extraordinário (veja aqui os ambigramas criados) e foi um sucesso tremendo, ampliado quando transposto para filme em 2009.